Geral - 01/06/2022

Inclusão nas Unidades Educacionais na Cidade de São Paulo - Desafios

Trataremos aqui da inclusão da pessoa com deficiência, mesmo que o Dia Internacional de Conscientização do Autismo nos remeta à informação do substancial aumento de diagnósticos (TEA) e, como consequência, de matrículas nas escolas. Também nos cabe um olhar direcionado ao grande número de atendimentos relacionados às demais deficiências, bem como a necessidade de ações constantes que percebam as dificuldades existentes: desde um grande número de alunos em sala de aula até a ausência de auxílio ao trabalho com alunos com dependência, que exige mais atenção e estratégias específicas, e também recursos que tragam resultados positivos a toda uma problemática existente, inserção de políticas públicas que resguardem o direito da inclusão, igualdade, equidade e diversidade.

As ações de Inclusão trazem, para todos nós, o desafio de mudanças em nossa forma de ver o mundo, agir e pensar.

A grande oportunidade de conviver com as diferenças resulta na melhoria das relações interpessoais, tornando-nos mais solidários, mais humanos.

Existe uma grande mudança na convivência com a inclusão na escola e na premissa de que a Educação ajudará a formar indivíduos críticos, éticos, responsáveis pelo social e ambiental, possuidores de autonomia de pensamento e produtores de ações que transformarão a sociedade, sabedores de direitos e deveres, bem como desenvolverem-se em suas potencialidades, tanto físicas quanto emocionais.

A pessoa com deficiência, que historicamente foi negligenciada, atualmente tem o direito de inserir-se socialmente e num amplo leque de oportunidades. Sendo a escola o primeiro convívio com as regras sociais, todos devem estar envolvidos e atentos a atitudes discriminatórias e situações de exclusão.

O envolvimento de todos - vale dizer, da escola como um todo - se dá através de exercícios democráticos, tais como: discussão sobre regras de convivência, onde todos têm oportunidade de expor suas ideias e chegar a um consenso, auxílio no cumprimento e respeito às regras. Com isso, tem-se uma excelente oportunidade para se discutir sobre cidadania, solidariedade, convivência com pessoas com deficiência, entre outros temas.

Quando acolhemos as pessoas com deficiência, devemos saber que existem enfoques sobre as quais devemos refletir: Inclusão, Equidade, Igualdade e Diversidade.

A Inclusão envolve um conjunto de ações que proporcionam acesso igual de participação, direitos e oportunidades a todas as pessoas.

A noção de Igualdade, via de regra, está relacionada com tratar todas as pessoas da mesma forma e garantir que todos os indivíduos tenham acesso às mesmas oportunidades.

Equidade é a garantia de tratamento diferenciado, em igualdade de condições e oportunidades. Ou seja, os direitos e deveres são os mesmos, mas as necessidades de cada um para exercer seu papel na sociedade são diferentes e precisam ser atendidas de forma justa.

Diversidade é a pluralidade de culturas, identidades, formas de pensar, experiências e trajetórias que podem ser encontradas em um grupo de pessoas. Todos somos diversos, independentemente do local onde nascemos ou de características físicas e emocionais.

Portanto, podemos afirmar que a Inclusão é o princípio de igualdade e garantia de equidade frente a quaisquer diversidades.

A Inclusão garante o acesso e permanência na escola; a Igualdade é o acesso às oportunidades; a Equidade garante o respeito às especificidades e à garantia de oportunidades, e a Diversidade é o termo relacionado a todos nós, cada um com sua característica única.

Agora nos cabe a reflexão sobre como se dá a Inclusão nas Unidades Educacionais da RME de São Paulo, sobre as condições de trabalho de seus educadores e como se dá o acolhimento às pessoas com deficiência.

Nossa Rede apresenta, quer na Educação Infantil, quer no Ensino Fundamental, um grande número de alunos dentro das salas de aula e/ou salas de convivência/recursos.

A Inclusão garante o acesso e a Igualdade garante a oportunidade, mas como garantir a Equidade frente à Diversidade?

A garantia de um tratamento diferenciado em igualdade de condições se perde com o número de alunos que também necessitam do apoio do educador, visto que a diversidade deve ser respeitada.

Muitos de nossos educadores sentem-se desamparados ao receber em suas salas de aula / convivência, alunos com especificidades tão diferenciadas e que necessitam de atendimento igualitário.

Alunos com as mais diversas especificidades como TEA - Transtorno do Espectro Autista, Síndrome de Down, outras síndromes, paralisias, distúrbios motores e neurológicos, surdez, mudez, cegueira, baixa visão, além de outros casos diferenciados - e que possuem o direito de acesso e equidade,- não conseguem seu desenvolvimento na aprendizagem a eles ofertada dentro da rotina escolar, onde o docente necessita de estratégias, conhecimento e demais condições para trabalhar ante as diversas características que se lhe apresentam.

Quanto à oferta de cursos e especializações, o que ocorre é que são em número menor do que necessário, como o escopo de abordar a consciência de que cabe não apenas o acesso do educando, mas sua permanência com a garantia de equidade na aprendizagem.

A ausência de eventos de formação continuada, a troca de experiências e a adequação dos conhecimentos, fazem com que a rotina diária seja dificultada, pois a adequação de atividades, flexibilização de estratégias e apropriação de conhecimento das especificidades dos alunos, em geral, demandam um suporte apropriado para o exercício do desenvolvimento dos alunos.

Também existe a necessidade de auxílio em relação às atividades físicas e fisiológicas do aluno. Há que se preocupar com o fato de que o aluno necessita de auxílio permanente para alimentação, locomoção, higiene e atividades extraclasse que, por seu turno, fazem parte das atividades pedagógicas no contexto escolar, e a ausência do referido auxílio limitaria a sua participação.

Tal auxílio se refere aos profissionais de apoio (Estagiários e AVE s) que, em conjunto com o Docente e Equipe Escolar, procuram atender às especificidades do aluno, com conhecimento em saúde, bem como de necessidades comuns ao seu desenvolvimento global e autonomia.

O envolvimento de toda a Equipe Escolar é imprescindível, uma vez que o aluno necessita de auxílio continuado e olhares atenciosos e permanentes, ou seja, uma equipe com olhares distintos para um mesmo desafio.

Em nosso dia a dia percebemos que cada aluno é único e precisa, apesar do direito, da garantia de uma educação de qualidade.

O que se oferta não atinge a necessidade da Rede e deixa a desejar, como se vê neste momento de retorno às atividades (pós-pandemia), no tocante à apresentação de uma estrutura de acolhimento tão frágil em relação à inclusão, bem como aos demais discentes.

Cabe aqui ressaltar que não só os alunos em sua totalidade necessitam de amparo, mas também toda a Equipe Escolar, como Docentes, pessoal do Quadro de Apoio e Gestão. Todos necessitam de "pontes de apoio" pois, a qualquer tempo, surgem intercorrências e, muitas vezes, com urgência em suas resoluções.

Existem casos de alunos agressivos e introspectivos. No caso de agressões a situação fica temerária, pois, além da dificuldade de se amparar o aluno em tal situação, bem como os demais, descortina-se, a partir de então, toda uma situação que se contextualiza.

Portanto, a prática de registros diários e/ou registros em "diários de bordo" da sala auxiliam no entendimento dos fatos ocorridos dentro da sala, durante o horário de permanência do aluno, bem como aqueles ocorridos em sua entrada e saída.

A observação de relatórios e/ou portfólios, oriundos de Unidades anteriores, também nos auxiliam no conhecimento do nosso aluno.

Salientamos que é necessário um contato permanente com a família, seja acolhendo-a em suas dificuldades, ouvindo-a em suas questões, seja informando-a sobre as atividades, as realizações e conquistas do educando.

Algumas situações necessitam de auxílio de setores / órgãos específicos, como DRE, CEFAI, NAAPA, UBS e CAPS, que também podem proporcionar um bom atendimento e suporte.

Aqui colocamos visões simplificadas de uma situação que pode ser amplamente aperfeiçoada, respeitando os alunos em suas diversidades e proporcionando-lhes tratamento igualitário e equitativo.

Prof.ª Débora Dimitrov - Diretora da APROFEM
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Obs. da APROFEM:

Recente matéria do Estadão (02/04/2022) "Inclusão de aluno autista avança no Brasil, mas ainda é desafio", destaca o trabalho desenvolvido na EMEF "Adolpho Otto de Laet", DRE - JT, com depoimentos relevantes da professora especializada e responsável pelo trabalho na sala de recursos e orientação das atividades nas salas regulares, e da diretora da U.E..

A APROFEM disponibiliza a íntegra dessa matéria no seu Portal https://www.aprofem.com.br/autismo e conclama a SME a publicizar com destaque iniciativas promissoras como a desenvolvida naquela U.E., certamente encontráveis em tantas outras UEs versando sobre temas diversos, e que podem constituir-se em paradigmas para a atuação da RME, quando provida dos recursos humanos e materiais necessários.


Detecção do TEA - Sinais de Alerta

Alguns pontos de atenção podem indicar TEA. Nenhum deles por si só fecham um diagnóstico, mas servem de alerta - nesse caso, procure um neurologista ou psiquiatra

Uma vez confirmado o diagnóstico, há uma segunda etapa importante que verifica o nível de dependência da ajuda de terceiros para aquele caso, pois é sabido que o espectro do autismo "é um amplo guarda-chuva de características".

  • Baixa interação social: a criança não tem interesse na troca com outras pessoas.
  • Pouco contato visual: a criança não olha os pais nos olhos ou não sustenta o olhar.
  • Dificuldade em atenção compartilhada: perceba se a criança compartilha interesses ou se ela se engaja em brincadeiras quando é convidada a participar.
  • Não há imitação: é esperado que por volta dos oito meses o bebê brinque de imitar o adulto.
  • Não atende quando é chamado pelo nome: há muitos casos em que os pais acham que o problema é auditivo, quando na verdade a criança não está demonstrando interesse na interação social.
  • Demora na fala: entre 1 e 2 anos, é esperado que a criança forme frases, mesmo curtas.
  • Sensibilidade sensorial: a pessoa com TEA pode se incomodar com barulhos altos ou se irritar com o contato físico.
  • Movimentos repetitivos: chacoalhar as mãos, balançar-se para os lados são exemplos de movimentos chamados de "estereotipias", que podem ser sinal de TEA.

Estadão, 09/04/2022, D4


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