Geral - 24/01/2017

Homenagem à cidade de São Paulo pelos seus 463 anos!

Terra sob o asfalto

Amo minha cidade no que ela tem de vertiginoso. Orgulho-me dessas torres de cimento e aço que procuram devassar o mistério de noites de neblina. Entendo o labirinto de suas ruas, o sentimento de seu povo, suas alegrias e tristezas de grande metrópole.

Percorro sua epiderme de asfalto e sua carne de pedra, mas não me esqueço da terra. Da terra que dorme sono secular, sob casas, ruas e arranha-céus.

Nela redescubro nosso destino, nossa história, nossos mortos.

Paro sempre para contemplar os jardins, os terrenos baldios, as construções. A muita gente isso pode parecer simples mania de poeta. Para mim, no entanto, representa algo muito mais sério.

É que, nos canteiros das praças, nos terrenos desocupados e nos lugares onde surgirão futuros prédios, ainda podemos ver a cor de nossa terra.

Passando pela Praça da República, sempre me recordo do antigo Largo dos Curros, onde os paulistas vinham assistir às corridas de touros; o Jardim da Luz me fala dos chãos de Domingos Luís, "O Carvoeiro"; o Ipiranga, da fazenda de Lourenço Castanho Taques; o Jardim da Avenida, da sesmaria de Antônio Rodrigues de Almeida; o Largo de São Bento, da taba de Tibiriça; o Ibirapuera, do Cacique de Ibirapuera, de Cornélio de Arzão e de Martim Rodrigues Tenório de Aguilar; a Freguesia do Ó, de Manuel Preto; o Pátio do Colégio, de Anchieta, Nóbrega e João Ramalho...

Cada nesga de terra que se descobre é pedaço de céu vermelho onde mergulham raízes de nosso planalto.

Sobre a terra, a cidade ajoelhada ergue seus braços para os céus e reza por seus mortos.

(Insólita Metrópole: São Paulo nas Crônicas de Paulo Bomfim, de Ana Luiza Martins, 2013)


"Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João".

(Trecho da música "Sampa", de Caetano Veloso)


Inspiração

São Paulo! comoção da minha vida...
Os meus amores são flores feitas de original...
Arlequinal!... Traje de losangos... Cinza e Ouro...
Luz e bruma... Forno e inverno morno...
Elegâncias sutis sem escândalos, sem ciúmes...
Perfumes de Paria... Arys!
Bofetadas líricas no Trianon... Algodoal!
São Paulo! comoção de minha vida...
Galicismo a berrar nos desertos da América!

(Pauliceia Desvairada, de Mario de Andrade, 1922)


"Porém com todo defeito, Te carrego no meu peito
São, São Paulo, Meu amor
São, São Paulo, Quanta dor".

(Trecho da música "São, São Paulo", de Tom Zé)


Non Ducor Duco

(Lema presente no brasão da cidade de São Paulo. Expressão em latim que significa "Não sou conduzido, conduzo".)


O Milagre Paulista

A cidade nasceu numa taba
Fez-se o sol na manhã quinhentista
Os tambores de guerra anunciavam
Que surgia o milagre paulista
Pauliceia foi burgo e é metrópole
Foi aldeia e arraial sertanista
Bandeirismo de agora retrata
O perfil do progresso paulista
A cidade nasceu de uma prece
No planalto que longe se avista
Foi no amor pela ínia Bartira
Que Ramalho tornou-se paulista
A cidade nascida de um templo
Nossa grei nosso chão de conquista
São as raças formando janeiros
Sob a luz da bandeira paulista.

(Música de Mário Albanese e letra de Paulo Bomfim)