ÁREA DO
FILIADO
Informativos - 27/06/2025
Uma mal disfarçada propaganda da Secretaria Municipal de Educação que, para os mais atentos, já sinaliza para uma campanha eleitoral antecipada, foi publicada em 27/06/2025 no jornal O Estado de São Paulo, na página A5, com material produzido pelo Estadão Blue Studio e apresentado pela Prefeitura de São Paulo.
Essa afirmação se materializa:
• no título: “Prefeitura beneficia mais de 20 mil alunos com programa de requalificação de diretores de escolas”;
• nas primeiras linhas: “Com objetivo de melhorar o nível de aprendizado, ação promove desenvolvimento profissional de 25 diretores com base em critérios técnicos e transparentes”;
• na lateral direita: “Rede garante material, uniforme e alimentação de qualidade”;
• nos destaques entre as colunas: “Alunos beneficiados, 8 mil Zona Leste, 7 mil Zona Oeste, 3 mil Zona Norte, 2 mil Zona Sul e Rede Municipal, mais de 1 milhão de alunos, R$ 604 mi de investimento, R$ 2,7 mi (SIC) de Refeições diariamente”.
Isto apenas numa análise do aspecto formal da matéria!
Ao analisar seu conteúdo, contudo, é possível encontrar afirmações que não correspondem à verdade dos fatos.
O primeiro parágrafo afirma que “mais de 20 mil estudantes do ensino fundamental serão beneficiados com um programa para requalificar profissionais da rede municipal de educação”.
Qual é a verdade? A grande maioria dos diretores afastados de suas escolas, sem qualquer esclarecimento prévio, com uma publicação em Diário Oficial da Cidade que continha apenas os registros funcionais desses Servidores, são profissionais com renomada competência, com projetos premiados (inclusive internacionalmente), com formação acadêmica muito superior ao exigido para o desempenho do cargo e com reconhecida capacidade de integração de suas escolas com as comunidades onde se inserem.
Aí cabem perguntas:
• Em que uma formação, até o momento não apresentada com a clareza e transparência sequer para os próprios convocados, “beneficiaria” esses estudantes?
• Qual a qualificação dos formadores encarregados? Seria superior à dos diretores envolvidos?
• Em que medida o afastamento dos diretores, que conhecem a escola, sua equipe, a comunidade, os estudantes e o Projeto Político Pedagógico da escola, poderia ajudar no desempenho pedagógico?
• Como alguém que vem de fora, não conhece a realidade da escola, já chega com um alto índice de rejeição por toda a comunidade escolar, conseguirá desenvolver um trabalho melhor do que o do diretor concursado, que já atua na escola e está sendo alijado do processo?
No segundo parágrafo a Prefeitura afirma que “Para tanto, após rodadas de diálogos com representantes do setor, diretores de 25 escolas passarão por etapas de requalificação profissional...”
Qual é a verdade? A APROFEM participou de uma reunião com o Secretário Adjunto de Educação e com a Secretária Executiva Pedagógica, na qual foram dados esclarecimentos muito genéricos sobre a proposta de formação e nós tivemos a oportunidade de externar nossa discordância plena com a forma adotada para a convocação desses diretores e nosso interesse em conhecer mais a fundo os conteúdos, metodologia, quem seriam os formadores etc. Tudo o que resultou dessa reunião foi a decisão de SME de tornar sem efeito um calendário para a formação, já publicado em Diário Oficial, e o compromisso de ouvir esses diretores.
De fato, foi marcada uma reunião no auditório de SME, com a presença desses diretores de escola e dirigentes de entidades sindicais. Diversas pessoas que lá compareceram, em solidariedade aos diretores, foram impedidas de entrar no prédio de SME.
O Secretário Municipal de Educação fez uma breve saudação aos presentes e, já tendo ao fundo uma projeção em “power point”, afirmou que eles estavam ali para ser informados como seria o curso.
Evidentemente, a proposta não era essa. Esse seria o momento do diálogo com esses Profissionais de Educação, feridos em sua dignidade, expostos pelas aparições na mídia, tanto do Prefeito quanto do Secretário de Educação, que fizeram diversas afirmações no sentido de que as escolas tinham fraco desempenho e indicando que a responsabilidade seria desses diretores de escola e, por essa razão, a Prefeitura estava investindo na sua “reciclagem”, termo, depois de muita polêmica, substituído por “requalificação”.
Sem habilidade para o diálogo, a Secretária Executiva encerrou a reunião, não permitindo que, de fato, as coisas pudessem ser tratadas com clareza. Prevaleceu, portanto, a vontade de impor essa “formação” a qualquer custo!
No terceiro parágrafo da matéria a Prefeitura alega que “A escolha das escolas seguiu critérios estritamente técnicos... com notas mais baixas no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB).
Qual é a verdade? Nem todas as escolas selecionadas tiverem esse critério respeitado e isso já foi demonstrado por estudos feitos. Além disso, uma avaliação externa, realizada com a aplicação de uma prova, não tem potencial para abarcar a totalidade e a complexidade do processo pedagógico dessas unidades.
Teóricos, seminários, palestras, cursos, Bitita, que recebe muitos estudantes estrangeiros, refugiados, que não têm o domínio da Língua Portuguesa, além de estudantes em situação de grande vulnerabilidade social. Lá existem projetos muito interessantes, inclusive, com suas línguas de origem e que estimulam a eficiência na comunicação, mas não dá para dizer que o diretor precise de uma requalificação por conta de uma prova de Português!
No subtítulo: Formação intensiva encontramos uma descrição de como se dará o processo formativo, com “estudo de casos, análise de dados e documentação pedagógica, referenciais teóricos, seminários, palestras, cursos, vivências em unidades com contextos semelhantes e projetos intersetoriais”.
Qual é a verdade? O que na matéria aparece com uma lista enorme de ações é, na verdade, desmentido pelos vídeos que alguns desses diretores fizeram, a título de denúncia mesmo, de suas reais situações, isolados, sem qualquer atividade, cumprindo suas jornadas de trabalho dentro das dependências de Diretorias Regionais de Educação, absolutamente sozinhos. Não por acaso, essa matéria surgiu hoje, ao que parece, como resposta à ampla repercussão alcançada por esses vídeos.
Ao final desse bloco aparece a menção ao programa “Juntos pela Aprendizagem” do qual o “Aprimorando Saberes” faz parte.
A medida, apresentada sob o pretexto de formação continuada, escancara o que a APROFEM vem denunciando há semanas: uma manobra da Gestão Municipal para afastar Diretores e abrir caminho para a privatização das Unidades Educacionais.
O projeto, que integra o Programa Jornada de Aprimoramento, impõe uma série de encontros e atividades ao longo dos meses, obrigando Diretores a se ausentarem de suas funções sem qualquer escuta real das comunidades escolares. A alegação de “formação intensiva” não esconde o verdadeiro objetivo: intervir na gestão democrática e esvaziar a liderança dos Profissionais que resistem ao desmonte da Escola Pública.
A matéria termina enaltecendo as atividades de SME na área de assistência aos estudantes (sem mencionar que esses recursos públicos dispendidos vão diretamente para os “bolsos espertos” de terceiros), num deslavado aceno ao empresariado e às chamadas OSs.
A APROFEM reafirma seu posicionamento contra o autoritarismo da Secretaria Municipal de Educação e à sanha privatista. Vamos acompanhar, fiscalizar e denunciar qualquer forma de intervenção ou desrespeito à autonomia das comunidades escolares.
APROFEM