Informativos - 17/10/2025

Audiência Pública Semipresencial da Comissão Permanente de Educação, Cultura e Esportes

Tema: Desafios e Caminhos para a Educação Inclusiva na Rede Municipal de Ensino de São Paulo
Data: 17 de outubro de 2025 
Local: Câmara Municipal de São Paulo, sob a presidência do Vereador Celso Giannazi

Relatório decorrente da participação da APROFEM

Contextualização
A Audiência Pública teve como pauta central o debate sobre os desafios e caminhos para a efetivação da Educação Inclusiva na Rede Municipal de Ensino de São Paulo, com enfoque nas políticas públicas, práticas pedagógicas e garantias de direitos das pessoas com deficiência.
 
Condução dos Trabalhos
O presidente da Sessão abriu os trabalhos destacando o aumento expressivo das matrículas de estudantes com deficiência, com crescimento de quase 50% entre 2018 e 2023, sem a contrapartida em investimentos, estrutura ou recursos humanos que garantam o acolhimento e a aprendizagem significativa desses estudantes.

O vereador enfatizou que, embora a matrícula garanta o direito formal, a inclusão efetiva ainda não ocorre de forma plena, considerando as limitações estruturais, pedagógicas e humanas da Rede. Segundo sua fala, “a cidade de São Paulo não é acessível”, e carece de políticas públicas concretas e intersetoriais para o enfrentamento dessa realidade.
 
Principais Pontos Debatidos

Infraestrutura e Acessibilidade

  • 45% das escolas municipais não possuem recursos de acessibilidade (rampas, pisos áteis, corrimãos, banheiros adaptados);
  • Menos de 5% das Unidades contam com elevadores em funcionamento;
  • Inexistência de dados públicos atualizados sobre as condições de acessibilidade nas escolas;
  • Defesa da criação de um sistema de monitoramento e transparência com indicadores públicos.

Recursos Humanos e Atendimento Educacional Especializado (AEE)

  • Déficit de 4.026 profissionais de apoio (AVEs, estagiários e auxiliares);
  • Apenas 907 Professores de Atendimento Educacional Especializado (PAEEs) em atuação — número insuficiente para atender à demanda;
  • Redução de módulos de apoio e excedência de ATEs em CEIs, agravando a sobrecarga nas Unidades diretas;
  • Defesa da realização de concursos públicos, para recomposição dos Quadros;
  • Necessidade de manutenção dos docentes em jornada JEIF, garantindo tempo para estudo, planejamento e formação;
  • Críticas à IN SME nº 14/2025, que atribui ao Diretor de Escola responsabilidades sem garantia de condições reais de trabalho.

Legislação e Garantias Legais
Foram destacados os principais dispositivos que asseguram o direito à Educação Inclusiva:

  • Constituição Federal – arts. 205 a 208;
  • Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) – arts. 58, 59 e 60;
  • Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) – Lei nº 8.069/90;
  • Lei Orgânica do Município de São Paulo – atendimento obrigatório na rede pública;
  • Lei Estadual nº 15.830/2015 – define limite de alunos por sala com estudantes com deficiência e prevê professor auxiliar;
  • Decreto nº 54.453/2013 – competências da equipe escolar e funções do gestor;
  • Instrução Normativa SME nº 14/2025 – atribuições relativas à gestão das condições de ensino e aprendizagem.

Formação e Condições de Trabalho

  • Ausência de formação continuada específica para os Profissionais da Rede;
  • Falta de professores auxiliares e de apoio, nas salas regulares;
  • Denúncias sobre retirada de direitos e desvalorização funcional;
  • Sobrecarga de trabalho docente e superlotação das salas de aula, inviabilizando o atendimento individualizado.

Políticas Públicas e Situação Atual

  • A Educação Inclusiva em São Paulo ainda não atinge efetividade;
  • Falta de articulação entre as áreas de Educação, Saúde e Assistência Social;
  • Sucateamento das Unidades diretas e fortalecimento da rede conveniada;
  • Ausência de profissionais de enfermagem, fundamentais para o atendimento nas Unidades Educacionais;
  • Crítica à contratação precária de profissionais com formação mínima e baixos salários – Auxiliares de Vida Escolar / AVE’s.

Encaminhamentos e Propostas

  1. Elaboração de um Plano Municipal de Educação Inclusiva, com metas e prazos;
  2. Ampliação imediata do Quadro de PAEEs, AVEs e estagiários;
  3. Concursos públicos permanentes, para recomposição das Equipes;
  4. Formação continuada obrigatória e certificada para todos os Profissionais da Rede;
  5. Revisão da IN SME nº 14/2025, adequando responsabilidades às condições reais das escolas;
  6. Reativação do quadro de Auxiliares de Enfermagem nas Unidades Educacionais da Rede Municipal de Ensino;
  7. Implementação de banco de dados público sobre acessibilidade e inclusão;
  8. Criação de uma Frente Parlamentar Permanente pela Educação Inclusiva;
  9. Revisão da Política Paulistana de Educação Inclusiva, garantindo condições reais de acolhimento e aprendizagem.

Considerações Finais
A Audiência Pública reafirmou que a inclusão é um direito e não um favor, devendo o poder público assegurar estrutura, recursos humanos, formação e investimento para garantir o acesso, a permanência e o aprendizado de todos os estudantes.
Apesar dos avanços legais, a efetividade das políticas públicas ainda é comprometida pela ausência de planejamento intersetorial e pela carência de infraestrutura e valorização profissional.
Promover uma educação verdadeiramente inclusiva exige compromisso coletivo, escuta ativa e ações concretas que tornem cada escola um espaço de equidade, acolhimento e cidadania.

APROFEM